segunda-feira, 13 de julho de 2009

Autênticos Cavaleiros


"Em nome de Jesus Cristo crucificado e da amável Maria, caríssimos filhos no doce Cristo Jesus, eu Catarina, serva e escrava dos servos de Jesus Cristo, vos escrevo no seu precioso sangue, desejosa de vos ver autênticos cavaleiros, de maneira que deis vossa vida por Cristo crucificado.

Vós fostes postos no campo de batalha desta tenebrosa vida, na qual nos achamos sempre a lutar contra inimigos. O mundo nos persegue com suas riquezas, altas posições e honras, mostrando-as como algo estável. Mas elas acabam e passam como o vento. O demônio nos assalta com muitas tentações, levando-nos a injuriar e muitas vezes a perder o controle na intenção de nos afastar do nosso próximo. Porque, se perdemos o amor perdemos a vida. A carne nos molesta com muitas fraquezas e movimentos, a fim de prejudicar nossa pureza. Com isso afastamo-nos de Deus, suprema e eterna pureza. Nossos inimigos jamais dormem, sempre atentos em nos perseguir. Deus permite isso para nos dar motivo de merecimento e nos acordar do sono da negligência. Sabeis que ao ser assaltado por seus inimigos, o homem procura meios para se defender. Ele compreende que, se ficar dormindo, estará em perigo de morte (espiritual). Deus permite as tentações para que estejamos acordados, munidos com as armas do ódio (pelo pecado) e do amor (pela virtude). O ódio fecha a porta aos vícios. Falo do consentimento da vontade, que opõe resistência e desprezo quando pode. Mas a pessoa abre essas portas às virtudes, estendendo as mãos ao amor, para acolher as virtudes com prazer e desejo.

Vedes assim como é bom, ótimo, que os adversários se levantem contra nós. Se possuímos uma vontade firme, não devemos nem podemos temer. Conformemo-nos, dizendo: 'Por Cristo crucificado tudo podemos'. E de que pode ter medo quem confia no seu Criador? General do nosso campo de batalha é Jesus Cristo. Ele, com seu sangue, derrotou nossos inimigos; venceu os prazeres e a riqueza mundana mediante a humilhação voluntária, mediante a fome, a sede e as perseguições. Cristo, com sua sabedoria, venceu o demônio e sua malícia, usando o anzol e a isca da nossa humanidade na união da natureza divina com a humana. Nossa carne foi derrotada na sua carne flagelada, torturada e saturada de opróbrios no lenho da santa cruz. E no fim, nossa carne foi elevada acima dos coros de anjos na ressurreição do filho de Deus. Nenhum corpo e nenhuma mente deveriam existir, tão corrompidos, que ao contemplar nossa natureza unida à natureza divina não se purificassem e não preferissem morrer que enlamear-se no pecado. Conhecemos o remédio. Nosso general, Cristo, venceu por nós nossos inimigos, enfraqueceu-os, aprisionou-os, de maneira que não podem vencer-nos, sem nosso consentimento. Nada temos a temer. Resta-nos apenas combater valorosamente, fazendo o sinal da cruz, contemplar o sangue do Cordeiro imaculado, e usar a espada do ódio (pelo pecado) e do amor (pela virtude), ferindo assim os adversários.

Este é o combate geral, que todos com o uso da razão devem enfrentar. Em sua infinita bondade, Deus nos escolheu como cavaleiros para o combate aos vícios e pecados, e para a procura do rico tesouro das virtudes. Assim me parece que Deus vos convida a crescer na perfeição através da salvação dos infiéis, como um dos primeiros combatentes da Cruzada. De fato, agora ela começa. O santo padre envia os cavaleiros militares, e quem os acompanha.

Bondosos filhos, revesti-vos sem nenhum medo com a couraça do sangue (de cristo), misturando o vosso sangue com o do Cordeiro. Que bela couraça esta, para defender de todos os golpes. E com a espada do ódio (o pecado) e do amor (à virtude), devidamente protegidos, golpeareis e vencereis vossos inimigos. Bondosos filhos, que consolidadada é esta couraça que, ao defender, vence, e ao ser ofendida, suplanta. Nela encontram-se flechas invisíveis, que fazem germinar flores e frutos. Flores são o louvor e a glória de Deus que eliminam a infidelidade. E com as flores virá o fruto, quero dizer, o merecimento de nossas canseiras, fazendo-nos viver a graça, vê-la crescer e, por fim, alcançar a eterna visão de Deus.

Deixai a negligência, sede esforçados, não recuseis o prêmio por causa de uma pequena canseira. Somente assim sereis cavaleiros fortes. Por isso afirmei que desejava vos ver cavaleiros fortes no campo de batalha, cumpridores da vontade divina e realizadores do meu desejo de que mergulheis e vos inebrieis no sangue de Cristo crucificado, pois é no sangue que o coração se fortalece.

Nada mais acrescento.

Permanecei no santo e doce amor de Deus.
Jesus doce, Jesus amor."

Santa Catarina de Sena, rogai por nós!
Todos os textos foram tirados da carta 257 escrito por Santa Catarina de Sena.

Felippe Cremona

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